Não tinha por hábito carregar este rosto que carrego hoje. Triste, de olhos completamente vazios, lábios tão habituados a sorrisos forçados. Não tinha por hábito possuir estas mãos sem força, paradas, frias e mortas. Também não tinha por hábito possuir este coração encolhido, que nem se dá ao trabalho de se mostrar. A verdade é que, mesmo não dando conta desta mudança, tão simples, tão fácil, ela aconteceu. Não sei em que espelho fiquei perdida. Nem sei como realmente me sinto, é tudo uma grande mistura de ansiedade, tristeza, orgulho, medo, saudade… está tudo tão confuso cá dentro! Se me perguntarem como estou não saberei responder, porque não sei como estou. Sinto-me como se fosse nada e isso destrói-me completamente.
Acho que sou um erro da natureza, um pequeno desastre capaz de alcançar a magnitude de uma bomba atômica… Não alcanço a felicidade tal como a felicidade não me alcança a mim. Ontem foi o baile de carnaval lá na escola, e tudo o que sentia á uns tempos atrás, voltou. Não foi por assim o desejar, não foi por vontade nem curiosidade. Não foi algo planeado nem premeditado, foi um sentimento. Não foram os olhos, nem os sorrisos, não foi a maneira de andar ou de se vestir, foram as palavras, todas elas. Foram as atitudes e as lembranças. Foi saudade e uma urgência daquilo que nunca tive, mas como se já tivesse tido antes. O problema é que penso ser uma incógnita insignificante no meio da equação e isso é desastroso porque confunde a mente ao complicar a conta e então, torna-se uma perda de tempo. E eu não quero. A minha vida já é feita de idas, sem voltas, já tenho o coração aberto e meus sonhos nas costas…